Patrão velho, buenas.
Nesta hora que canta o galo,te bendigo,louvado para sempre tu sejas.
Escuta esta velho gaudério ,peão velho da lida e da doma,e do arado cansado.quero te dizer umas palavrinhas.
Tu bem sabes velho Patrão,já se passaram tantos invernos,desde que me colocaste neste pampa amado,terra que muito amo,que eu velho peão xucro,da lida já cansado,não tenho lembrança,,de um dia ter te dito.obrigado.
Obrigado Patrão velho, obrigado pelo nascer do sol,que me aponta e ilumina o caminho que devo seguir durante o dia e sua claridade que ilumina a labuta deste peão,o calor que me aquece o corpo em dias de frio, por tudo isso;obrigado Patrão velho.
Em meio a tantas lembranças, nesta hora da madrugada, algumas, alegres outras tristes, venho ter contigo Patrão velho, te dizer que tive uma boa vida e te agradecer por isso. Nunca faltou a labuta e o pão na minha mesa, sempre domei um ou outro cavalo ou mesmo peguei coice dum arado nove, lembro ainda, Patrão velho, da minha mulher, a prenda primeira do meu coração, que cedo levaste para junto de ti.
Hoje velho e cansado vivo solito no mais nesta nessa casinha de pau a pique, sinto neste lombo arcado e alquebrado, o peso da idade, meu andar é lento e tremulo, resta apenas as lembranças de piá.Muito da vida eu aproveitei, fui guri como tantos outros, muito já galopei por estes pagos, Já tanto andei no lombo do meu velho baio, que muito eu já vi da tua grande estância terrena, este grande pampa em que muito eu trabalhei e vivi.
Quanta melancia já roubei das lavouras alheias, banhos de rio que muito lavaram e refrescaram meu corpo,lembrança das águas fresquinhas,bebidas com gosto nos olhos d água,que mataram minha sede, tuas matas verdejantes cheias dos bichos que criaste,as flores que enfeitam nossos campos, os frutos que matam nossa fome,mesmo quando disputava os frutos de ariticum com os bugios era festa no mato.É Patrão velho,quanta lembrança.
Sempre andei por estes campos do meu pampa amado, ora verdejantes no verão, ora brancos de geada no inverno, muito dormi ao relento, tendo o céu estrelado em noite enluarada por coberta nas tuas noites quentes de verão, sempre tive a alegria de ver o sol despontando lá no nascente, colorindo as nuvens,deixando mui belo o amanhecer. Nada Patrão velho, é igual ou mais bonito , e assim, com a tua benção e tua proteção, tornei-me homem.
Patrão velho, breve vejo a hora de partir, não deixo herdeiros,não tive filhos, fiz por meus filhos, cada um que ensinei a montar, a domar cavalo xucro, mesmo aqueles que aprenderam a lidar no campo comigo, cada um deles é um pouco meu filho do coração,hoje mesmo, vivo neste pedacinho de chão,pertencente a um destes guris, antes da minha partida, abençoa Patrão, a todo moleque ,que hoje já tornou-se homem, que aprendeu a lidar e a trabalhar o campo comigo, levo a certeza de ter ensinado,desde a lide ao respeito pelas tuas coisas velho Patrão.
Quando partir, vou levar desta terra, a saudade do meu pago, o canto do sabiá, do tico-tico, do quero-quero, do construtor, o João de barro.
Patrão velho, breve nos veremos, mas eu desejo desde agora te agradecer por tudo que me deste,sou pobre de bens materiais, mas tenho a riqueza da vida, vida que tu me deste, as boas lembranças que irão me acompanhar, a saudade deste pago que levo no peito.Obrigado Patrão velho, por todas as belezas que estes meus olhos cansados já viram.
Permita Patrão velho, que na hora da minha partida, eu possa ir viver La no ranchinho da eternidade, na grande estância celeste, e se não for te pedir demais meu velho Pai, permita que a minha prenda, a mulher primeira e única deste peão,esteja lá me esperando,com o chimarrão verde e amargo, quanta saudade de minha linda prenda.por hoje Patrão velho, meu velho pai,meu muito obrigado, pela vida deste velho peão.
2 comentários:
Gostei desse!
Muito lindas as imagens do seu blog!
Sobre os demais textos, ainda não tive tempo de ler.
Mas, com certeza (se o Patrão Celestial permitir), volto aqui outra hora, para ler e comentar mais.
Muito bom mesmo teu blog,e todos os poemas, ate gostaria de lhe pedir permissão para ler o Poema do PATRÃO VELHO em um programa de radio do qual eu participo
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