Conto 1.
DANAÇÃO
-ola. Tem alguém ai?
-ninguém?
-Uma alma caridosa?
Meus pensamentos estão confusos. Imagens de um pensamento que não é meu, mas ao mesmo tempo em que me pertence. Seria isso a loucura. Um tormento infindável?
Já não sei quem sou. Resta apenas este trapo humano, mais desumano, despojado de humanidade, uma sombra do que já fui. Um homem. Sim já fui um homem, ou acho que isso. Nessa escuridão já nem sei mais quem ou que sou. Não vejo nada, apenas as trevas me acompanham a cada passo e a cada tombo. É uma de cair e levantar, nesse imenso vazio trevoso, infinito, sem nada a se apoiar, sem nada a tatear. Estou enlouquecido com certeza. Mas acaso teria eu a certeza de estar louco, se a loucura não me daria tal raciocínio?
Tenho muitas perguntas. Já nem posso confiar nos meus sentidos. Sinto dores, sede, fome,frio,e nada nesse inferno escuro faz isso cessar.
-acorde porco. Ande.
Meio sonolento ainda sou sacudido por pancadas,que se assemelham a socos e pontapés.
-acorde imprestável. já descansou o suficiente.
-Agora é hora de pagar a estadia em meus domínios.
Antes de esboçar qualquer reação,ou articular qualquer palavra,sou jogado no ar,qual fosse um balão de ar e novamente segurado por mãos poderosas.
Tento desesperadamente gritar com meus captores.inutilmente.percebo que não posso falar.mudo.estou mudo.o pavor me domina por completo.
A escuridão persiste. Onde estou. Para onde estão me levando. Ouço risos e deboche de todos os lados. Gargalhadas guturais. sons de fúria e o arrastar de pesadas correntes.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus.
-olhem todos. Dissera alguém de voz cavernosa. -vejam como este animal humano clama por seu deus. Não fora ele próprio quem declarou que Deus não existia?
-AQUI TE ENCONTRAS PARA SERES JULGADO POR MIM.
A voz mais parecia um trovão que ecoava por todos os lados. tremendo e acuado num canto.assim me deixaram.assim fiquei.te todos os tormentos o que mais me assusta é a escuridão.
-A ESCURIDÃO É O MENOR DE TEUS TORMENTOS. AQUI NINGUÉM TERÁ COMPAIXÃO DE TI,DE PRONTO JÁ TE AVISO.TEU CASTIGO SERA ETERNO.ENTRETANTO OUVIREI OS QUEIXANTES A TEU RESPEITO.
Terei enlouquecido de vez?Que queixantes?Quem ousaria queixar se de mim?
-MUITO SÃO AS QUEIXAS QUE PESAM CONTRA TI.
Como se não posso falar esse daí responde a minhas perguntas?
-SAIBA QUE TUA CEGUEIRA É POR MINHA VONTADE E ASSIM PERMANECERA, ASSIM COMO TUA MUDEZ.
-NÃO ÉS DIGNO DE OLHARES A NÓS TEUS ACUSADORES E JUÍZES. MENOS AINDA QUE PROFIRAS UMA PALAVRA. AQUIETA-TE. TEU DESTINO ESTA SELADO. AQUI TE ENCONTRAS POR MERA FORMALIDADE. E PARA QUE NOS DIVIRTAMOS ENQUANTO TE ACUSAMOS.
Estarei no inferno?
ENTÃO AQUELE QUE NÃO CRÊ EM DEUS CRÊ NO INFERNO?NÃO SERIA TU ENTÃO UMA CONTRADIÇÃO?SE CRÊ NO INFERNO CRÊS EM DEUS.
-NÃO RESPONDA. NÃO QUERO MAIS OUVIR TEUS INCÔMODOS PENSAMENTOS.-MANTENHAM-NO EM ESTADO DE DOR PARA QUE NÃO PENSE EM NADA.QUE SEUS GRITOS MUDOS SEJAM MUSICA PARA AQUELES QUE BUSCAM DE JUSTIÇA E VINGANÇA.
-TRAZEI-O AO AUDITÓRIO.
ABRAM O PAINEL MENTAL O INFELIZ,QUE ELE VEJA TUDO EM SUA MENTE,MAS CONTENHAM SEUS PENSAMENTOS.NÃO QUERO DESORDEM NO MEU TRIBUNAL.
QUE ENTRE O PRIMEIRO ACUSADOR.
-sr.aqui me encontro para anunciar o crime deste homem contra mim e minha família.
-QUE BUSCAS TU DE MIM?
-justiça.-não vingança,quero que ele sofra por tudo que fez.
-ELE SOFRERA MEU PEQUENO SERVO.
-QUE SEJA FEITA A PRIMEIRA ACUSAÇÃO.
Abre-se em minha mente um painel.vejo uma pradaria linda,campos verdejantes,e uma linda menina.olho a mim mesmo,um soldado.desertor acredito eu.maltrapilho.corro atrás da menina e abuso dela de todas as formas possíveis.vejo a mim mesmo fazendo crueldades inimagináveis.por fim vejo o sangue inocente em minhas mãos.
A cena avança alguns dias.
Numa taverna,bêbado apunhalado pelo pai da menina,acho eu.encontro meu fim.
QUE TENS A DIZER ANIMAL. ESPERA NÃO PRECISA AS PROVAS DE TEU CRIME SÃO IRREFUTÁVEIS.
-E TU,QUE QUERES DE MIM?
Entra no tribunal uma moça que seria lindíssima não fosse seu estado lastimável.
-quero que ele sofra as humilhações que sofri,ele que já não pode mais morrer,que sofra tormentos pela eternidade.
Novo painel mental.
Algo que seria uma pequena cidade, um vilarejo.
Agora a vejo com toda sua beleza. uma linda e formosa mulher,vestida de ricas sedas .
Vejo a mim mesmo como seu amante.esposa de um rico mercador.flagrados em ato adultero,fugi covardemente e a deixei.
O tempo passou ,alguns dias após,procurado pela dama em meu local de trabalho,me pede auxilio.não apenas nego como a humilho diante do vilarejo.
Meses mais tarde a vejo enforcada na saída da cidade .não como vido ainda a humilhei mais ainda.mesmo morta.sendo o mais errado da história toda eu.
Mas o mais cruel dos meus crimes ainda estava por vir.
-PRÓXIMO ACUSADOR.
-QUE QUERES TU DE MIM.
-justiça apenas
-MESMO SABENDO QUE A SENTENÇA DELE JÁ ESTA DECIDIDA?
-ele plantou. Ele que colha.
-MAIS QUE JUSTIÇA,ISSO ME PARECE VINGANÇA.
-tivesse o Sr testemunhado o que vi, a monstruosidade praticada para com meu filho,não queria o Sr vingança também?
-MUITO BEM.ALEM DO PAINEL MENTAL,QUE TU NARRE A HISTÓRIA.
-é longa, ouvira o Sr?
-TEMPO NÃO NOS É PROBLEMA NÃO É MESMO.
-muito bem
-No ano da graça de nosso Sr Deus pai...
-Perdoe me.eu não quis invocar a ele.
-NÃO TEMA PEQUENINO.SOU JUIZ AQUI,POR OBRA E VONTADE DE DEUS.O MAL PRATIACADO AQUI É TÃO SOMENTE PARA PUNIÇÃO DOS MAUS.NÃO SOMOS MAUS,A PENAS FAZEMOS A JUSTIÇA PARA AQUELES QUE NÃO O PODEM FAZER.E O PREÇO JÁ NOS FOI AJUSTADO NÃO É MESMO.POR TUA JUSTIÇA TU ME SERVIRAS NA ETERNIDADE.
A GORA RELATE E BUSQUE TUA JUSTIÇA.
-obrigado grandioso ser.
-Tinha-mos um filho apenas,minha esposa e eu.com sacrifício mandamos ele para escola.esse monstro era o mestre.tinha-mos confiança nele.deixamos nosso único filho para que estudasse as letras com ele e mais trinta colegas.
-mas tudo mudou numa tarde de inverno.
Meu coração dispara diante das imagens.reconheço o menino de quem ele fala.
Meu filho,nessa ultima vida fora meu filho,fico aflito,quero gritar e chorar mas não consigo,estou imóvel,petrificado.como fizeram isso a mim?como me prenderam dessa forma.
Desespero...
-esse mostro matou meu filhinho.
Lagrimas de dor rolavam da cara de meu acusador,e eu cada vez mais desesperado,a angustia crescendo,meu coração parecendo pular fora de mim.como isso é possível.?se já não tenho mais corpo físico.como posso sentir tudo isso?
-por meu filhinho não saber os números que ele ensinara,o colocou de castigo no porão da escola.
-meu filho gritava desesperado, que tinha um bicho La dentro.mas o monstro apenas gritava mandando-lhe que se calasse.os colegas que eu escutei depois falaram-me que o meu filho implorava por socorro mas que o monstro gritava e mandava que ele fosse homem e não um covarde.que aguardasse na escuridão até o termino da aula.disseram que meu filho parara de gritar,que tudo silenciara.
-esse monstro matou meu filho.
Um silencio de cemitério pairou no recinto.até que o trovão voltou a ressoar por todos os lados.ele urrava de prazer e ria como numa peça de comédia.o trágico é que era minha a ser narrada.comédia para eles um file de terror no qual sou eu o monstro e ao meso tempo a vitima.como parei aqui.por que eu?
-CONTINUE,E TU ANIMAL ,NÃO TENS DIREITO ALGUM AQUI.NEM O DE CHORAR OU DE IMPLORAR PERDÃO,ALIAS NINGUÉM QUE CHEGA A ESTE TRIBUNAL TEM PERDÃO.
A cada palavra do meu juiz mais eu temia meu fim. Meu destino como dissera era sofrer em tormento a eternidade.seria ele o diabo?
-as crianças me chamaram no trabalho.me relataram o corrido.
CONTINUE
-Passava da hora da ave Maria quando me alcançaram.
-Disseram-me que meu menino estava morto. M orto de castigo, que o professor deles o castigara no porão da escola e que La ele morrera picado por uma serpente venenosa.
-contaram-me do sofrimento do meu filho,de como ele implorou por ajuda e de como esse monstro o chamava de covarde.
-ele so tinha seis anos.
-Como alguém pode fazer a um inocente de seis anos?
-Somente sendo um monstro
-procuramos pela serpente,os pais dos demais meninos e eu.por fim a encontramos.eu mesmo tirei sua pele.eu mesmo pisei-lhe a cabeça,a matei com minhas mãos .mas não bastava eu queria a cabeça do monstro empalada.nunca mais voltei para casa.após o enterro do meu menino.minha esposa suicidou-se,e eu passei a vagar atrás do monstro.ele desapareceu n o mesmo dia de seu crime. Encontrei sua família.cheguei a ter o pescoço de seu filho em minhas mãos.mas não era ele que eu queria.
AINDA BEM QUE NÃO O FIZESTE.TERIA SANGUE INOCENTE EM TUAS MÃOS E SERIA TU ALI NO LUGAR DELE HOJE.
TENS MAIS UM CRIME A SER JULGADO.
O QUE PRATICASTE POR ULTIMO.
QUANTO A ESTE, QUE TU MESMO SEJA O ACUSADOR.QUE TUA CONCIENCIA SEJA TUA ACUSADORA.
Abre se novo painel mental.vejo a mim mesmo ainda adolescente.
Estou só.um lugar fechado,azulejos por todos os lados.um banheiro.mas não é dos meninos.não há mictórios.olho para os lados.coração acelerado,ofegante,como um ladrão,alguém a fazer algo muito errado.
Entra uma menina.linda,sorriso angelical.vejo a mim mesmo como se assistisse a cena do alto.violento a menina até estar saciado do desejo animalesco que me dominou.ato contínuo saio correndo,nem percebo que o corpo da menina ficou inerte no chão.
Apenas mais tarde quando ouço a gritaria que me dou conta da merda que fiz.
Junto tudo o que me pertence e corro para casa.meus pais estão viajando,pego todo dinheiro que há na casa,no cofre,ouro,joias,e desapareço no mundo...
Nova paisagem.
Agora casado e já com idade, tenho um filho, que aparentemente me odeia,não importa o quanto eu faça para agrada-lo,ele me detesta.mas sinto que o amo.mesmo apesar disso,sinto afeto pelo moleque.
Novo painel. detesto essas mudanças.me causam dor de cabeça
Agora estou no quarto do meu filho.ele esta na aula.e eu me divertido com uma puta qualquer que chamei por telefone.dessas que se anunciam no jornal.minha esposa viajando,eu achei que merecia me divertir.então chamei essa puta.passamos a tarde nos divertindo,perdi a noção do horário,meu filho me flagra em pleno ato sexual na cama dele.
Ele sai gritando que vai contar tudo para mãe dele. Um escanda-lo que definitivamente eu queria evitar.uma vez que ela era a dona do dinheiro que me sustentava.
Chamei, implorei para conversarmos. Mas ele estava irredutível. mandei a puta embora.
E fui ter com meu filho. Mas ele fugira de mim. demorei alcançá-lo.chorava muito.esta inconsolável.dizia impropérios a meu respeito.que merda.era meu filho.tinha o dever de me respeitar .resolvi exempla-lo ali mesmo.dei uns tapas.nada muito forte.por que o filho da puta tinha de morrer.por que ele tinha de cair no cordão da rua.bateu a nuca.a morte foi instantânea.nada pude fazer.somente me dei conta do mal quando já estava sendo linchado pela multidão.fiquei em coma varias semanas.uma única vez minha esposa foi me ver.chorou,espraguejou e por fim me amaldiçoou.que eu apodrecesse no inferno.
Será que é por isso que aqui estou?
Somente ouço as gargalhadas a minha volta. Fecha se o painel mental.
Quero chorar,gritar que estou arrependido de tudo,mas incapaz como estou, todo meu sofrimento se afoga na minha garganta.
AGORA TU COMPREENDE O TAMANHO DA TUA CULPA.DOS CRIMES QUE PRATICASTE?
POIS AGORA EU DE DOU A PENA. E ETERNA ELA SERA.
PARA O CALABOUÇO COM ESTE ANIMAL. MANTENHAM-NO PRESO EM FERROS AOS QUATRO VENTOS,ESTIQUEM SEU CORPO ATÉ QUE SUA PELE NÃO AGUENTE MAIS.MANTENHAM-NO EM DORES.MANTENHAM-NO CALADO,QUE NINGUÉM SEJA OFENDIDO PELO SOM PODRE DE SUA VOZ, E PARA SEMPRE CEGO PARA A LUZ DO DIA.JOGUEM-NO NO CALABOUÇO MAIS PROFUNDO, NUMA CELA SEM GRADES E SEMPRE A FERROS.QUE DEIXEM DIARIAMENTE QUE ELE REVEJA SEUS CRIMES BÁRBAROS. QUE DIARIAMENTE SEJA ELE ESFOLADO POR UMA DE SUAS DE SUAS VITIMAS.QUE SUA PELE MALDITA E PESTILENTA SIRVA DE ALIMENTO AS BESTAS DO ABISMO.
QUE SEUS GRITOS SEJAM AFOGADOS NA SUA MUDEZ.
QUE ASSIM SEJA ATÉ A ETERNIDADE SE FINDAR.
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